sábado, 17 de setembro de 2011

Resumo do estudo de 14/09

Sobre a Lei de Sociedade

Allan Kardec inicia o capítulo da Lei de sociedade no Livro dos Espíritos perguntando se a vida social é natural e obtem como resposta que o homem foi criado por Deus para viver em sociedade (L.E q. 766).

Mas para deixar o assunto bem claro, Kardec complementa o assunto perguntando se o isolamento absoluto é contrário à lei natural. Os espíritos respondem que sim, pois 'todos os homens devem concorrer para o progresso, ajudando-se mutuamente.' (L.El q. 767).

Essas questões não geram grandes polêmicas entre nós, espíritas, pois a sequência de perguntas parece direcionada ao caso de alguns tipos de religiosos que buscam o isolamento como forma de 'fugir ao contato pernicioso do mundo' (L.E q. 770) e essa experiência está muito distante de nós. No entanto uma das questões do capítulo abre espaço para muita discussão:

"769. Concebe-se que, como principio geral, a vida social esteja nas leis da Natureza. Mas como todos os gostos são também naturais, por que o do isolamento absoluto seria condenável, se o homem encontra nele satisfação?
         — Satisfação egoísta. Há também homens que encontram satisfação na embriaguez; aprovas isso? Deus não pode considerar agradável uma vida em que o homem se condena a não ser útil a ninguém."

Ficamos nos perguntando se existe alguém que sente satisfação em estar só e encontramos resposta num texto de Richard Simonetti chamado 'Eremitas do asfalto', inserido no livro Constituição Divina. A descrição dada pelo autor provocou reconhecimento em vários participantes do NEU. A satisfação do isolamento pareceu um fato para todos nós.

"Os eremitas do presente isolam-se em amplas e confortáveis cavernas, desobrigados até de sonhar, porquanto a televisão o faz por eles, embalando-os num mundo de fantasias diante do qual situam-se estáticos e inúteis. O preço é muito alto: a alienação dos valores mais nobres da existência e, sobretudo, o comprometimento da condição humana, que não pode ser sustentada sem o convívio social e o envolvimento com a comunidade. Resultados: depressão, insatisfação, angústia, enfermidade, crônica infelicidade."

Quantas vezes não direcionamos todos os nossos esforços na busca por mais bens materiais, mais conforto, mais segurança? E esquecemos da importância do contato, da troca. Não são valores excludentes, mas muitas vezes acabamos por abandonar uma parcela da nossa vida em sociedade para viver nas cavernas que descreve o autor.

Essa trajetória de vida pode ser uma cilada, pois vemos companheiros que dedicaram todos os seus esforços pela busca de estabilidade e segurança para si e seu núcleo familiar mais próximo. Mas passam os anos, desencarna o esposo ou esposa, crescem os filhos, e aquele indivíduo fica sem referências, pois não tinha solidificado valores íntimos. Passou toda a sua existência evitando olhar para o mundo, querendo cuidar dos seus, que talvez não precisassem de tanto cuidado.

A pergunta de Kardec, sobre indivíduos que sentem satisfação com o isolamento, acaba revelando um aspecto mais profundo. As pessoas que buscam o isolamento não o fazem satisfação, mas para evitar a vida em sociedade, seja por tédio ou por insegurança. Mas essa solidão acaba gerando tristeza e depressão a longo prazo. 

Nossa regra de ouro para todas as análises se resume a três sentenças: cada caso é um caso; a gente não pode bater o martelo; é muito fácil ser pedra, difícil é ser vidraça. Levando isso em conta, não nos cabe ser o juiz ou o conselheiro da vida de ninguém, mas chamamos à reflexão junto com Simonetti e com Kardec a respeito da necessidade do trabalho com a coletividade.

Dessa forma, além de aprender tantas lições para o nosso crescimento, temos oportunidade de encontrar a felicidade mais perene, construída no trabalho no bem, que é a melhor terapia para evitar a solidão, prevenindo todos os males que se desenvolvem em consequência.

Estudo apresentado no NEU-Biomédico

2 comentários:

  1. Este mundo é muito desolador e egoísta, grande parte dos empecilhos e recompensas que recebemos parecem ser apenas nossos e não compartilháveis, por vezes nem com os mais próximos. A insegurança e o medo de se expor ao mundo não é necessariamente egoísmo - com toda a carga de frivolidade e mesquinhez associável -, mas a manifestação da legítima vontade do Homem de não sentir dor.

    ResponderExcluir
  2. Mas a dor é inevitável, neste mundo de provas e expiações em que vivemos... o sofrimento é que é opcional. Quero dizer, a forma como nos relacionamos com a dor não precisa ser sofrida, amarga, nem nos afastar dos nossos próximos. Creio, pelo contrário, que é através da dor compartilhada, da compaixão em seu sentido mais profundo (cum patire = sofrer com) que nos identificamos com nossos irmãos e nos percebemos como semelhantes.

    ResponderExcluir