terça-feira, 4 de outubro de 2011

Resumo do estudo de 29/09


Deus parte II: A providência divina

O estudo foi desenvolvido a partir de algumas questões que não haviam sido completamente respondidas na semana anterior. Ao discutirmos os atributos divinos, havíamos questionado a validade de características (ausentes na Codificação, porém trazidos ao estudo para debate) tais como onisciência e onipresença divinas. Estes “atributos” não muito ortodoxos geraram reflexões acerca da atuação de Deus no mundo, isto é, do funcionamento da providência divina. Pois, de acordo com Kardec “A providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Ele está em toda parte, tudo vê, a tudo preside, mesmo às coisas mais mínimas. É nisto que consiste a ação providencial.” (Gênese, Cap2, Item 20)

Questionando-nos sobre a possibilidade de Deus intervir ativamente no mundo (fato que, em uma primeira análise, parece ser sugerido pelo conceito de providência divina) foi apresentada a seguinte analogia: nós, a Criação como um todo, seríamos como peixes no oceano. Todo movimento dos peixes é captado, “percebido” pelo oceano no qual eles estão imersos, sem que se confundam com ele. Essa analogia se aproxima da apresentada por Kardec:

quer o pensamento de Deus atue diretamente, quer por intermédio de um fluido, para facilitarmos a compreensão à nossa inteligência, figuremo-lo sob a forma concreta de um fluido inteligente que enche o universo infinito e penetra todas as partes da criação: a Natureza inteira mergulhada no fluido divino. (...) Nenhum ser haverá, por mais ínfimo que o suponhamos, que não esteja saturado dele. Achamo-nos então, constantemente, em presença da Divindade; nenhuma das nossas ações lhe podemos subtrair ao olhar; o nosso pensamento está em contacto ininterrupto com o seu pensamento, havendo, pois, razão para dizer-se que Deus vê os mais profundos refolhos do nosso coração. Estamos nele, como ele está em nós, segundo a palavra do Cristo.” (Gênese, Cap 2, Item 24)

Deus é onipresente, ou seja, está em todos os lugares, porém não se confunde conosco – pois isso levaria a um Panteísmo, em que cada ser seria uma parte de Deus, assim como a uma materialização da idéia de Deus. Não há lugar em que ele não esteja e, portanto, nada do qual não esteja ciente. Esta onisciência, porém, não implica prever as ações humanas e tolher seu livre-arbítrio, visto que se exerce apenas no momento presente, e não rumo ao futuro. Foi levantada, ainda, a dificuldade de relacionar Deus com estes conceitos temporais, visto que ele está fora do espaço-tempo, fora de nossa realidade. Deve, assim, existir uma série de atributos divinos fora do alcance da nossa compreensão.

Retornamos a uma discussão dos seus atributos, na qual foi aventado que sua justiça e amor seriam a própria essência divina, atributos máximos dos quais derivaria todo o resto (como no estudo passado havíamos falado da perfeição). Viu-se a necessidade de um terceiro conceito para exprimir a fusão destes dois que conhecemos. Foi levantada então a impropriedade da noção de justiça do senso comum, trazendo-se o conceito de “justiça restaurativa”, que seria mais próxima da divina, por buscar proporcionar ocasiões de reparação e aprendizado, baseada na responsabilidade e na restauração dos traumas e lesões produzidas pelo crime, e não simplesmente na punição.

Retornando-se, a partir daí, à questão da atuação de Deus, concluímos que Ele não perdoa, pois perdoar significa ter antes se sentido ofendido, ou seja, ter sentimentos ainda não depurados, relacionados ao orgulho. Mais que isso, concluímos que Deus tampouco atende preces, julga, ouve ou conforta: pois Deus não conjuga verbo. Lembramos que, devido ao imaginário cristão que compartilhamos com católicos e protestantes, acabamos sempre partindo de um Deus antropomorfo, com caracteres humanos, para negar esta humanidade e tentar chegar a um Deus “mais divino”. Foram evocadas, então, noções menos humanizadas de Deus:

1) O conceito grego, pré-socrático, de Kósmos, que seria o princípio ordenador da realidade, a lógica que a tudo regeria. 2) A Força (da trilogia de ficção científica Star Wars) que possui esse mesmo caráter de ordenação da realidade, porém que traz também uma noção de “estar em equilíbrio com a Força”, associada à compreensão do funcionamento e do porquê das coisas. Fica assim, mais evidente a compreensão de Deus como “inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”. (Livro dos Espíritos, Cap 1, questão 1)

Nossa conclusão sobre o funcionamento da providência divina retomou o item 8 do capítulo 2 da Gênese: espíritos já depurados alcançam a compreensão de Deus e do funcionamento da Criação, passando a colaborar com ela e a agir como ministros divinos, realizando todas as ações que atribuímos à providência divina: atender preces, proporcionar situações de aprendizado e velar pela Criação em geral. Assim, temos um Deus que não executa ações humanas, mas que não deixa de ser todo amor, pois nos garante, pelo funcionamento de suas leis, proteção, amparo e assistência constantes.